domingo, 30 de janeiro de 2022

COMO TUDO COMEÇOU – BEM ANTES DE COMEÇAR

 por Luciano Teles 


Minha coleção começou antes de eu sequer pensar em começar.

Explico:

A foto acima mostra a face interna da capa dupla do LP The Beatles Live At The Hollywood Bowl, 1977. De cara, fui pego pelo pé. Pelo êxtase da gravação em si (não liguei para a qualidade e ainda acho o disco mágico), pelos pins – ou bottons –, a pequena bandeja, as flâmulas, o cassete de 8 faixas... tudo me chamou a atenção.

Mas foram os dois “livros” que mais me puxaram os olhos. Eu não sabia o que eram. Só que eram duas publicações Beatle. E que, se estavam ali, num disco da banda, alguma importância tinham.

Eu não sabia. Mas a minha coleção de programas começava ali, no longínquo ano de 1985.



Meu contato com o Beatles Live At The Hollywood Bowl se deu de uma forma meio inusitada. O amigo Paulo André gravou uma fita com músicas deles, selecionadas por mim. Calhou da primeira música ser Twist And Shout – escolha óbvia, já que eu iniciava minha beatlemania. Era 1984. E foi logo depois do Globo Repórter apresentar um especial sobre a banda. A música tocou no programa e ficou na minha cabeça. Eu tinha acabado de comprar o LP “Beatles, A Collection Of Oldies But Goldies” (abaixo), coletânea de 66, relançada pela Som Livre. E não tinha Twist And Shout, para minha frustração.




Para minha surpresa, a gravação que foi para a fita era ao vivo. Tirada do disco The Beatles Were Born, de 1972 (lançado pela Napoleon, na Itália, e pela CID, no Brasil). Uma coletânea maluca. No lado A, gravações dos Beatles no Hollywood Bowl, mas eu não sabia. No lado B, The Who, Captain Beefheart, Buffalo Springfield e uma música de intérprete desconhecido. O primeiro lado ainda tinha uma qualidade audível. O segundo, nem tanto. Detalhe precioso, que só percebi depois: o disco tinha, na contracapa, texto do radialista Newton Duarte, o Big Boy, um dos grandes divulgadores dos Beatles no Brasil. Volto ao assunto em outro post.





Quem conhece o Hollywood Bowl, dos Beatles, sabe que Twist And Shout veio numa versão mais curta, que eles passaram a executar depois de 1964. Eles abriam o show com ela e logo emendavam You Can´t Do That – que, infelizmente, não veio no disco oficial. Entretanto, foram para o Were Born desse jeito, apesar de serem a quarta e a quinta música, respectivamente. E assim abriram a minha fita.

Ainda me lembro da sensação de ouvir os Beatles ao vivo pela primeira vez. Vozes e instrumentos em versão crua, sem nenhum refinamento de estúdio. Ao fundo, mas de forma quase que dominante, os gritos dos fãs. Que George Martin descreveu muito bem, na contracapa do Live At The Hollywood Bowl, comparando-os ao som de um avião a jato. Além de me fazer querer ir atrás de um disco ao vivo dos Beatles, aquela sequência, de Twist And Shout e You Can´t Do That, despertou em mim uma verdadeira paixão por gravações ao vivo. Explico melhor em outra oportunidade.

Quando comprei o Hollywood Bowl, além de finalmente ouvir todo o disco, me vi literalmente hipnotizado pela foto central. A imagem deles, em preto e branco, quase que sem nenhum aparato, além dos instrumentos e amplificadores, sobre o palco, separado da plateia por um lago... Não sei o motivo, mas eu vi a cena e associei ao esforço que pareciam fazer, ao cantarem frente àquela parede sonora de gritos, (sem retorno e só com os amplificadores do palco, como vim a saber depois). O que me passou uma imagem de um quase abandono. Na época, foi como eu pensei sobre a situação.



Mas era uma cena mágica. E adornada por fotos dos mais variados objetos voltados aos fãs. Bottons, cassete de 8 faixas, flâmulas, a bandeja e... os dois “livros”. Na verdade, programas. E que eu quis imediatamente ter. Por quê? Porque pareciam ser produzidos pelo pessoal deles. E, acima de tudo, deviam ter boas informações sobre os Beatles. Coisa que já não era disponível em bancas de jornais. Literalmente, passei a sonhar com aquilo. Ao ponto de imaginar, num desses sonhos, que, de bicicleta, indo para a então Escola Técnica Federal de Campos dos Goytacazes, RJ, os encontrava num armarinho que ficava no caminho. Nem me tocava de que eram publicações de 1964 e 1965.


O tempo passou, eu não os comprei, claro, e a vida seguiu. Num salto de 1985 para 2011, me vi recém inscrito no eBay, procurando por CDs bootlegs de The Who. Até que, ainda elaborando a melhor forma de busca, me deparava com umas revistas. Algumas tinham o ano de publicação na capa. Outras, não, mas tinha escrito “Official Program”. E havia as que não tinham nem ano, nem nome algum. Permaneciam indefinidas, para mim.

Também percebi a diferença de preço entre umas publicações e outras. Resolvi adquirir três, que tinham preço bem acessível – contando com custos de envio. Isso tem de ser sempre observado, pois algumas modalidades incluem taxas próprias. Queria só ver do que se tratava. Apesar de alguns anúncios trazerem mais fotos internas, nem tudo estava esclarecido. Não me lembro de ter procurado pelos termos citados, na internet, como meio de elucidar do que se tratavam. Enfim, comprei os programas das turnês de 1980, 1981 e 1982, do Who.




Foi aí que eu vi o mundo que se abria na minha frente. Principalmente, quando percebi que ali estavam dados fartos sobre as turnês. Roteiros. Nomes dos integrantes das equipes - alguns bem respeitados pelos fãs e facilmente acessíveis, por redes sociais, hoje em dia. Fui pesquisando mais e vi que os programas, principalmente os de até o início dos anos 70, quando havia mais nomes nos roteiros dos shows, podiam contar a história deles e, claro, dos artistas principais.

Duas curiosidades:

1- Demorei a comprar os programas dos Beatles, que estão no LP. Tratam-se das edições para as turnês americanas de 1964 e 1965. Primeiro, porque os Beatles não eram meu objetivo principal, naquele momento. E, depois, porque demorei a encontrar com preços em conta - e estado de conservação satisfatório.

2- Ainda me pergunto, hoje em dia, como que não fiz a associação entre programas de shows/turnês e os de ópera, música clássica e teatro, dos quais já tinha conhecimento. Não sei. A ligação parece óbvia, mas passei ao largo dela. Uma possibilidade: a diferença entre as finalidades de uns e outros. Enquanto os programas de turnês abrangem um longo período de apresentações, com os mesmos artistas, em diversos locais, os de teatro, óperas e música clássica, geralmente, abraçam apenas uma noite e para uma casa, apenas.

Ah, Claro! com o tempo, consegui um exemplar de cada programa dos que me inspiraram a começar essa jornada: Beatles 64 USA Tour e Beatles 65 USA Tour. E, sim, os dois e as duas turnês têm peculiaridades a serem contadas também. Com o tempo, eu volto a eles.

Grande abraço!

Acima, os dois exemplares que consegui, das turnês norte-americanas de 1964 e1965












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